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AOS OLHOS DA MINHA 

 

Aos olhos da minha infância 

Eu e meus irmãos tínhamos 

As horas e os dias como infinitos.

A pequena casa onde vivíamos era

Diminuta, porem, um castelo no coração.

Nas noites de Natal os presentes nunca vinham,

Mas divertíamos com espírito de criança nos

Carretéis de linhas, nas vaquinhas de limão.

Brincávamos sem a menor noção

Do mundo incerto que nos esperava.

Quando a noite chegava

Dormíamos sob um telhado frágil

Onde o frio competia com a coberta rala na cama comum.

Nas noites de luar, pequenos cometas

Prateados da luz da lua atravessavam o telhado

E dançavam bruxuleante pelo casebre.

As frestas das janelas assobiavam com o vento

Numa espécie de sinfonia que nos assustava.

A silhueta dos raios no seu reflexo pelas frestas

Das paredes refletiam nas panelas ariadas

Sobre o fogão de lenha, onde as brasas ardentes

Pareciam olhos de um grande dragão espreitando.

Na noite chuvosa, os pingos da chuva batucavam

Cadenciado nas velhas latas sob o beiral do telhado

Num cantarolar de ninar em uma nota só.

 

Ao amanhecer o cheiro de café quente,

O biscoito frito, o chá de alfavaca,

O terreiro molhado,

As mangas maduras derrubadas pelo vento.

Os pés descalços,

A roupa remendada.

 

Os olhares da minha infância

Caminharam comigo pela vida…

E hoje, aos olhos da minha velhice,

Saudosamente, faço dos meus cansados olhos;

O olhar da minha infância!

Haromax
Enviado por Haromax em 25/10/2024
Alterado em 31/10/2024
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