Aos olhos da minha infância
Eu e meus irmãos tínhamos
As horas e os dias como infinitos.
A pequena casa onde vivíamos era
Diminuta, porem, um castelo no coração.
Nas noites de Natal os presentes nunca vinham,
Mas divertíamos com espírito de criança nos
Carretéis de linhas, nas vaquinhas de limão.
Brincávamos sem a menor noção
Do mundo incerto que nos esperava.
Quando a noite chegava
Dormíamos sob um telhado frágil
Onde o frio competia com a coberta rala na cama comum.
Nas noites de luar, pequenos cometas
Prateados da luz da lua atravessavam o telhado
E dançavam bruxuleante pelo casebre.
As frestas das janelas assobiavam com o vento
Numa espécie de sinfonia que nos assustava.
A silhueta dos raios no seu reflexo pelas frestas
Das paredes refletiam nas panelas ariadas
Sobre o fogão de lenha, onde as brasas ardentes
Pareciam olhos de um grande dragão espreitando.
Na noite chuvosa, os pingos da chuva batucavam
Cadenciado nas velhas latas sob o beiral do telhado
Num cantarolar de ninar em uma nota só.
Ao amanhecer o cheiro de café quente,
O biscoito frito, o chá de alfavaca,
O terreiro molhado,
As mangas maduras derrubadas pelo vento.
Os pés descalços,
A roupa remendada.
Os olhares da minha infância
Caminharam comigo pela vida…
E hoje, aos olhos da minha velhice,
Saudosamente, faço dos meus cansados olhos;
O olhar da minha infância!